sexta-feira, 6 de maio de 2011

A base dos relacionamentos

Cada vez mais as pessoas encontram muita dificuldade em estabelecer um relacionamento saudável, principalmente em se tratando de relações amorosas.


Sob meu ponto de vista, precisamos de companhias, amigos, parentes, companheiros. Mas a grande dificuldade das pessoas para manter seus relacionamentos é, na minha opinião, o fato de elas acreditarem que não podem ser felizes sozinhas, e acabam se tornando dependentes de outros, para manterem seu próprio bem estar. Aplicando essa teoria no nosso cotidiano, fica claro entender porque sites de relacionamentos ganham, cada dia mais seguidores que buscam diversas formas de relacionamento e comunicação.

Nosso primeiro e mais sólido relacionamento, é com nossos pais, naturalmente. Em alguns casos esse primeiro forte vínculo, por infortúnio ou não, dá-se com outras pessoas que cumprem papel de pai e mãe.

Acredito que muitos já tenham ouvido falar na problemática Edipiana, famosa tragédia grega. Para quem não conhece direito e quer ler sobre Édipo, resumi num texto no fim do post.*
Agora, a interpretação de Freud dessa lenda. O complexo de Édipo envolve tanto meninos, quanto meninas. Notavelmente, nos primeiros anos a mãe é a figura mais importante para ambos. Os dois são fascinados pela mãe e o pai é visto como "intruso". Após um tempo, a menina passa a se identificar mais com o pai, vendo a mãe como alguém que está competindo por espaço e, da mesma forma, o menino identifica-se mais com a figura materna. Mais futuramente, a realidade mostra aos dois que a solução para este conflito, é abrir mão da sua fonte de amor e segurança que a mãe significa para o menino, e o pai para a menina, procurando alguém que os substitua. A menina aproxima-se da mãe, e o filho, identifica-se com o pai. Este conflito ocorre geralmente dos 7 aos 9 anos de idade. E na fase em que o menino busca identificar-se com o pai, ele o imita, admira e busca sua companhia, sendo solucionada a competição dos dois pela atenção da mãe.

Carl Jung descreve o conflito entre anima e animus. Jung denomina anima a feminilidade inconsciente existente no homem, a qual se manifesta por caprichos e mudanças de humor. A anima encerra os atributos fascinantes do "eterno feminino"; em outras palavras, é o arquétipo do feminino. O primeiro receptáculo da anima é a mãe, e isso faz com que aos olhos do filho ela pareça dotada de algo mágico. Depois a anima será transferida para a estrela de cinema, para a cantora de rádio e, sobretudo para a mulher com quem o homem se relacione amorosamente, provocando os complicados enredamentos do amor e as decepções causadas pela impossibilidade do objeto real corresponder plenamente à imagem oriunda do inconsciente. Aliás, esta transferência nem sempre se processa de modo satisfatório. A retirada da imagem da anima de seu primeiro receptáculo constitui uma etapa muito importante na evolução psíquica do homem. Se não se realiza, a anima é transposta, sob a forma da imagem da mãe, para a namorada, a esposa ou a amante. O homem esperará que a mulher amada assuma o papel protetor de mãe, o que o leva a modos de comportamento e a exigências pueris gravemente perturbadoras para a relação entre os dois.
Jung refere à masculinidade existente no psiquismo da mulher como animus. Esta masculinidade é inconsciente e manifesta-se de modo primário como intelectualidade mal diferenciada e simplista. Daí vermos freqüentemente mulheres sustentarem afirmações a priori, opiniões convencionais, que não resistem ao exame lógico, mas que nem por isso deixam de ser teimosamente defendidas com argumentos acirrados. O animus opõe-se à própria essência da natureza feminina que busca, antes de tudo, relacionamento afetivo. Sua hipertrofia resultará em humor instável, ou até em quebra de laços de amor. O primeiro receptáculo do animus
é o pai. Depois transfere-se para o astro de Holywood, para o mestre, para o cantor pop, o campeão esportivo ou o líder político (o que é mais difícil, pelo menos no Brasil). Projetado sobre o homem amado, tenta fazer dele a imagem ideal, impossível de resistir à convivência cotidiana. Daí, poderão vir as decepções inevitáveis.

Vou fazer uma ressalva quando a menina faz essas idealizações, que posteriormente são projetadas para o companheiro, namorado. Isto é um processo que se segue durante anos. Idealizamos e esperamos melhor dessa pessoa. Cria-se um perfil de uma pessoa que responda às nossas expectativas. Mas quando a realidade mostra que a pessoa é bem diferente do idealizado, surgem conflitos e decepções.

Quem nunca ouviu de amigo(a), frases como: "o que tiver que ser será" ou então, "a pessoa certa logo aparecerá" e ainda "se não foi, não era pra ser". O grande problema que percebo, está exatamente nessa idealização. Do dicionário temos como sinônimos de idealização: Ato ou faculdade de idealizar; planejamento; fantasia; imaginação. Parece muito mais fácil acreditar na sua fantasia, e não aceitar a realidade, do que apenas buscar uma pessoa que apenas nos faça sentir bem. E isso significa aceitar que todos têm defeitos, enxergar que a idealização é algo criado em nossa mente, e diz respeito apenas ao que esperamos do outro e que deveria suprir nossas carências, portanto, de nossa responsabilidade. O que volta ao início do texto: carências. O fato de acharmos que precisamos mesmo de alguém ao nosso lado, para que? Essas carências deveriam ser supridas por cada um e não por outro. O ideal seria aceitar o outro como ele é e tê-lo ao lado por admiração concreta e real. Relacionar-se apenas por afinidade e desejo de compartilhar momentos e experiências juntos. Isso também se aplica a amizades, também esperamos muito daqueles que consideramos grandes amigos, e por isto também nos decepcionamos quando não correspondidos.

Segue abaixo um trecho do sermão da Sexagésima do Pe. Antônio Vieira, muito interessante:

"O amor fino não busca causa nem fruto. Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: e amor fino não há-de ter porquê nem para quê. Se amo, porque me amam, é obrigação, faço o que devo: se amo, para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há-de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo; amo, ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam é agradecido. quem ama, para que o amem, é interesseiro: quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, só esse é fino." Pe. Antônio Vieira.
Comumente as relações entre o homem e a mulher ocorrem dentro do tecido do imaginário produzido pela anima e pelo animus. Portanto, não é surpresa que surjam emaranhados problemas na vida dos casais. Meu objetivo com este mesclado de textos e proposições, é fazer o leitor refletir sobre seus relacionamentos e expectativas. Não como um texto de auto ajuda, e sim como um texto explicativo da base dos relacionamentos, fazendo com que entenda que esta transposição de idealização dá-se de forma inconsciente desde a primeira infância. Agora, tomando consciência deste processo, pode então o leitor avaliar seu comportamento e julgamentos a respeito de suas relações diversas, sejam elas de amizade, com os pais e amorosas.

*Complexo de Édipo:

"Laio, rei de Tebas (cidade da antiga Grécia), não queria que sua mulher Jocasta engravidasse, porque o oráculo de Delfos havia profetizado seu assassinato por esse filho (oráculos eram seres humanos que faziam predições através de comunicação com divindades, em próxima oportunidade escreverei sobre como uma dessas consultas influenciou a trajetória de Sócrates). Mas, certo dia Laio bebeu um pouco a mais e gerou uma criança. Quando Jocasta deu a luz, Laio tirou o filho dela, levou-o para as montanhas cravando-lhe um prego nos pés, deixando-o para morrer. Apesar dos esforços de Laio em tentar evitar a previsão dos oráculos, o bebê foi encontrado por vizinhos dos tebanos, os corintos, que levaram a criança até a rainha de Corinto, que não tinha filhos. Batizado de Édipo, a criança cresceu amando rei e rainha acreditando serem seus pais verdadeiros. Até que, quando adulto, um dia numa visita a Delfos, interrogou o oráculo a respeito de seu futuro, e o oráculo profetizou que ele mataria o pai e casaria com sua própria mãe. Horrorizado, Édipo fugiu de Corinto e decidiu nunca mais voltar. Pelo caminho, na estrada que o levava para longe de Corinto, Édipo é atropelado por uma carruagem, e furioso mata o condutor e arremessa o passageiro pra longe, que preso pelas rédeas, é arrastado pela estrada e morto. O passageiro era "Laio". Édipo seguia para Tebas, quando foi surpreendido pela esfinge (decifra-me ou te devoro), ele decifrou o enigma e a esfinge se matou, tendo dessa forma liberado os tebanos do monstro que os aterrorizava. Por esse feito ele ficou famtoso e virou rei de Tebas, casando-se com: Jocasta, sua mãe. Tiveram 4 filhos e não, essa história não tem um final feliz. Numa outra consulta ao oráculo, a história verdadeira lhes foi contada. Sabendo a verdade, Jocasta se enforcou e Édipo cegou a si próprio e se exilou, sendo perseguido pelas Fúrias até sua morte."

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